O dia amanheceu solar, verde-azul pela moldura da minha janela. Ontem de madrugada, enquanto lia os trabalhos dos meus alunos sobre "A Memória de São João de Meriti", que consistia em entrevistas com moradores antigos, me emocionava, talvez pela primeira vez, com meu ofício. E senti um orgulho danado dos meus alunos.
Trabalhei tanto tempo com história oral, na faculdade, na monografia, que é através do tempo circular da memória que percebo a passagem do tempo. São as pequenas narrativas, a memória dos velhos que guarda do esquecimento imagens ignoradas pelo Poder e que suscitam, mais do que um passado acabado, a sugestão, a polifonia, a multiplicação de versões, a imprecisão.
O terreno da memória é o da dúvida, e como substrato da História, pincela a 'ciência' que estuda o passado com cores de romance policial, de poesia lírica, onde a palavra é auto-reflexiva, de nostalgia. O passado é o reino do não-dito.
Eu só gosto de Historiografia assim, quando ela é Literatura.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Assinar:
Postagens (Atom)