sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

[consigo apenas escrever sobre amor]


com um tiro só tirei a minha vida e a tua.










*Texto de TH.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Afonso Henriques Lima Barreto

Ando tonta, nauseada, enjoada. Tropeço. Ando devagar porque me sinto uma barata intoxicada. Gosto de morte na boca. Me desculpe este texto em primeira pessoa. Esse tom confessional. Falta um cigarro, falta ser suave. Falta fumaça para que eu retome o fôlego para escrever. Vejo meus livros e tenho vontade de chorar compulsivamente. Nada me traz mais tristeza do que a sensação de que não os alcanço. Cansada.

Não sei escrever e gaguejo enquanto escrevo este texto. Queria ser menos roja que Clarice, ser lavanda. Ganhei Rayuela em espanhol, La liebre también. É um luxo, não? Toco, miro as cores, a textura do papel, a tipografia, o cheiro de celulose e aspiro os ácaros. Sufoco. Vomito todas as palavras que ingeri, soluço vírgulas, pontos e travessões e de vez em quando arroto um parágrafo inteiro.
Meu estômago dói, minha cabeça dói. Nada sai suave e ler já não consigo, escrever já não consigo. As letras caem violentamente uma a uma. Sonhar já não sei, desaprendi. Me pergunta se eu estou feliz. "Você está feliz?" "Estou feliz".
Quanto mais eu vivo, menos escrevo. Sinto saudade dos meus mortos. Não sou mais leitora. Me maltratam meus mortos, me sinto indigna e tão moribunda que minhas palavras saem assim mendicantes. Sem elegância. Não sou mais leitora, não escrevo mais. Não me peça para apurar nada. Eu só vomito palavras e choro enquanto escuto o estalar das teclas de plástico. Me sinto tão indigna das palavras que não abro um livro sequer há um mês. A idéia de tocá-los me deixa aos prantos. Isso tudo é uma bobagem para quem vê literatura como entretenimento. Eu queria um cigarro agora. Enquanto escrevo, transbordo pelas mãos, pelos olhos, pelo nariz. Coloco o dedo na minha ferida. E largar meu vício pelos livros é mais doloroso que largar 17 anos de tabagismo. Tenho medo de esquecê-los. Tenho medo da ignorância, do senso-comum, da superfície, da literatura como entretenimento. Seria tudo tão mais fácil, se num dia de sol, eu abrisse La liebre e desgustasse seu espanhol despretensiosamente.

Um dia tive uma crise de choro no metrô. Olhava para o vidro enegrecido e tive um impulso de perguntar para a moça que estava sentada ao meu lado se ela queria meu Faulkner de presente. Não tive coragem, fiquei na vontade. Não abri mais o Faulkner.

Para Lima Barreto, TH e Huguito.